O tema apresentado no parágrafo anterior foi discutido no 5º Workshop Internacional: Genômica Aplicada à Pecuária – Cadeia da Carne, no mês de março, em Araçatuba/SP. O assunto aparentemente tão novo para nós já vem acumulando história no Brasil e muito se deve a esses encontros realizados continuamente pela Unesp. Vou tentar aqui mostrar alguns exemplos de aplicações práticas dos temas apresentados neste workshop e das mudanças (e grandes avanços) que a tecnologia da genômica vem obtendo.
A palestra realizada pela Angus americana, por Tonya Armen (Angus Genetics Inc.), mostrou como a tecnologia foi incorporada na rotina da avaliação genética dos animais nos últimos dez anos, iniciando com uma ferramenta mais restrita a questões de paternidade e defeitos genéticos, avançando para a performance de reprodutores e, agora, já sendo oferecida também para produtores comerciais para fins de orientação de acasalamentos. As DEPs dos animais passaram a ser chamadas de “GE – EPDs” e incluem informações de pedigree, performance, progênie e genômica. Um argumento prático que justifica a genômica é de que os marcadores equivalem à informação de 15 a 20 filhos de um reprodutor. Dessa forma, a tecnologia substitui ou antecipa a valiosa informação das progênies e, assim, torna os dados de um reprodutor jovem muito mais confiáveis.
Representando os criadores de Angus nos EUA, Dick Beck (Three Tress Ranch) relatou os avanços obtidos em sua criação, especialmente na busca de animais com maior tolerância ao calor e com alto valor de carcaça. O rebanho trabalha com a seleção de Angus e Brangus e coleta informações de DNA para o programa de seleção desde 2005. Com muita convicção, entusiasmo e dados de campo, o criador defendeu o uso da genômica e sustenta que essa tecnologia foi a responsável pelo grande salto de qualidade genética de seus animais nos últimos anos. A ferramenta mostrou-se eficaz na seleção de animais mais produtivos e na diferenciação de seu rebanho em relação a outros que fazem menor uso da técnica.
O diferencial competitivo obtido não se deve somente ao marketing do uso da genômica (como ainda vemos em alguns rebanhos brasileiros),mas ao avanço genético superior em relação a outros rebanhos de seleção da raça.
Os usos para rastreabilidade de produtos (especialmente carne) foram informações trazidas por um palestrante do Reino Unido. Alguns exemplos práticos da aplicação para esse fim foram listados:
O episódio recente da carne de cavalo misturada na de bovinos na Europa exigiu novas medidas para preservar a confiança do consumidor e o DNA passou a ser uma importante ferramenta nesse sentido. Observa-se claramente que a tecnologia deixou de ser algo pensado somente para fins de melhoramento genético e para também se incorporar às exigências do consumidor em relação à segurança e à origem do produto.
Em relação ao uso da tecnologia no Brasil, foram apresentados trabalhos e informações recentes da Unesp, USP e Embrapa. Cabe destacar aqui que esses trabalhos todos estão muito avançados no mundo com taurinos (especialmente Angus e Holandês) e coube ao Brasil produzir informações (genotipagem) para a raça Nelore. Na programação do workshop foi visitado o rebanho “Nelore do Golias”, uma das fazendas mais envolvidas com todas essas pesquisas de genômica no Brasil, pois um de seus touros foi escolhido para a realização do “genótipo do boi Nelore” no país. Esse rebanho foi escolhido por ser considerado um dos mais fechados geneticamente desde a importação de animais Nelore da Índia. Comprovando que as possibilidades em genética são praticamente ilimitadas, o Nelore do Golias está provando que é possível obter carne com marmoreio na raça Nelore. O rebanho vem selecionando intensivamente para essa característica e está se tornando uma referência e fonte de genética de carne de qualidade em zebuínos. As evidências estão na ultrassonografia de carcaças, nos marcadores moleculares e em uma prova que nunca ficará obsoleta: a degustação da carne.
Publicado na colunda do "Pasto ao Prato" (Revista AG, Abril/2015)