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Novilhas: pense nelas e recrie bem

Informação, Reprodução | 23 de Junho de 2016
A reposição de fêmeas no gado de cria é uma atividade de alto impacto na produtividade, rentabilidade e qualidade final do rebanho. Pois bem, apesar de toda essa importância, as terneiras (bezerras) e novilhas muitas vezes (ou na maioria das vezes) não são priorizadas e acabam sendo recriadas e selecionadas conforme “dá”.

Outro dia, eu campereava com um tio no campo da família e ele me comentou ao apartarmos umas terneiras: “aí está o futuro”. Concordei e lembrei que somos pouco cuidadosos com o futuro, pois estamos bem atentos aos manejos dos lotes de invernada (suplementação), aos lotes que ocupam as pastagens de inverno (mais abundantes com a ampliação das áreas de soja em todo o Sul do Brasil), aos lotes de vacas diagnosticadas prenhes e acomodadas nos campos para parição, aos novilhos que estão sendo recriados e, por fim, dedicamos mais atenção e algum investimento à recria das novilhas.

Apesar de muito simples o tema, achei apropriado em função da época do ano (entrada do inverno) lembrar e valorizar a recria das fêmeas e os impactos em reprodução e qualificação do rebanho. A mensagem deste texto é mais voltada ao selecionador, sendo que seus compromissos são bem maiores na reposição de matrizes, pois elas serão as mães dos touros e do resultante “pacote genético” a ser ofertado no mercado, mas a lógica serve da mesmíssima forma ao produtor comercial, seja criador ou ciclo completo. A recria da novilha não afeta somente a taxa de prenhez ao primeiro serviço, mas também outras questões importantes como: quais animais ingressam no rebanho de cria, a taxa de repetição de cria das primíparas e idade média do rebanho de cria “ativo” na propriedade. Vamos tentar avançar mais nesses assuntos aqui neste artigo.

Quando não damos condições adequadas para a recria de fêmeas, projetando o entoure dos animais aos 24 meses (e normalmente acima de 350 kgs), acabam ingressando em reprodução as terneiras (bezerras) nascidas no “cedo” (início da estação de parição), as maiores em função do porte (normalmente mais tardias), e não temos espaço para seleção por biótipo, qualidade genética e famílias. A forma de se tentar mudar esse ciclo negativo no perfil das fêmeas que ingressam o gado de cria passam pela cria e recria dos animais. Algumas estratégias e alternativas para ampliar o universo de “candidatas" à reposição”:

a) Elevação do peso médio ao desmame

– (buscando pesos próximos ou superiores aos 200 kg), através do melhor manejo nutricional do gado de cria, da seleção de matrizes com maior habilidade materna,
com o uso de creep feeding, etc.). 

b) Recria melhorada
– oferecer melhores ganhos pós-desmame para que as fêmeas alcancem e superem o peso meta ao início da estação (350 kg, 380 kg, etc.), através de mineralização adequada, suplementação alimentar, uso de pastagens cultivadas, etc.

c) Flushing pré-entoure
– a melhoria nutricional e da condição corporal das novilhas no pré-entoure melhora os resultado de taxa de prenhez. 

d) Pré-sincronização
– o tratamento hormonal das novilhas para indução do cio antes do início da estação reprodutiva também eleva a ciclicidade e os resultados de prenhez na categoria.

e) Elevação do peso ao 1º serviço
– apesar de novilhas de raças europeias entrarem em puberdade com jovem idade (12, 14, 16 meses, etc.) e até baixo peso (igual ou menor que 300 kg), o entoure
com “peso-limite” pode até alcançar boas prenhezes, mas gerará baixos resultados na repetição de cria dessa categoria (primíparas).

Naturalmente que listar itens é fácil e realizar todos pressupõe um plano de investimento bem superior ao manejo usual da maioria das propriedades. Cada um avaliará que item aplica-se melhor à vocação de sua propriedade, em função de sua exploração, da possibilidade de integração com agricultura, da disponibilidade regional de resíduos, etc. Em um rebanho de cria no qual as novilhas ingressam aos 2 anos e as vacas são descartadas entre 7 e 8 anos, ocorre a renovação total de matrizes a cada 5 anos. Logo, é de suma importância a qualidade e o desenvolvimento das novilhas que selecionamos para reposição. 

O maior número possível de novilhas deve ter a oportunidade de ingressar no rebanho de cria e, para tanto, o peso ao desmame e a recria devem ser “bons” o suficiente para que esses animais superem os pesos mínimos e o porte (desenvolvimento) desejados, pois assim teremos a possibilidade de selecionar os indivíduos de melhores índices (DEPs), filhas das vacas sabidamente superiores, do biótipo buscado pelo rebanho (mais precoce, intermediário, mais tardio, etc.), de melhor temperamento e até do tipo de “pelame” mais adaptado à região. No segundo serviço, fêmeas que ingressaram na reprodução com bom peso e desenvolvimento são candidatas à repetição de cria e na situação usual (entoure “no limite”) o inverso é verdadeiro, ou seja, são candidatas fortíssimas a não repetição de cria, levando-nos ao descarte de animais jovens ou à manutenção de matrizes vazias na propriedade. Os animais mais jovens do rebanho são os recursos mais “modernos geneticamente” disponíveis na propriedade e restrições ao número de candidatas ao primeiro serviço e/ou baixo desempenho reprodutivo das primíparas é uma grande redução do aproveitamento desse recurso. Perde-se em produtividade, perde-se em melhoramento genético. 

As raças europeias, maioria do rebanho do Sul do Brasil, tem potencial genético para acasalamento com apenas 1 ano e esse é o padrão de manejo reprodutivo nos países de pecuária mais moderna ou intensiva, gerando assim maior eficiência do estoque (gado) e maiores níveis de melhoramento genético. Estamos aqui discutindo somente como melhorar o aproveitamento dos animais no primeiro entoure aos 2 anos e como minimizarmos prejuízos com a falta de repetição de cria de primíparas aos 3 anos. Logo, estamos falando de algo muito pé no chão, mas que ainda é uma área que em média descuidamos. Realizando alguns dos avanços propostos aqui podemos nos deparar com um bom problema: mais fêmeas prenhes no primeiro serviço do que o necessário para a reposição da propriedade. Nesse caso, temos atualmente um mercado muito receptivo e remunerador para novilhas com prenhez confirmada de bons touros. Aqueles que acompanham os leilões de gado comercial e os informativos que nossa empresa publica sabem bem do que estou falando. Nada mal. 

* Publicado na Revista AG, Coluna "Do Pasto ao Prato" - Edição Maio/2016

Novilhas: pense nelas e recrie bem

Foto: Divulgação/Assessoria