Foto: Divulgação/Assessoria
Por Luiz Josahkian, especial para a Revista Globo Rural
Há exatos dez anos, Carlos Henrique Cavallari Machado, incansável batalhador por uma pecuária produtiva, Nelson Pineda (in memorian), o professor José Aurélio Garcia Bergmann e eu fizemos, a nós mesmos, uma pergunta: "Como se parecia uma vaca zebuína ideal? Qual seria o seu tamanho? Qual seria o seu peso?"
Então nos pusemos a caminho da busca por uma resposta. A intenção original do nosso projeto, que se revelou quase infantil ao final, como veremos logo adiante - era traçar o desenho do biótipo da vaca ideal.
E foi assim que nos lançamos a pesquisar sobre como seria a vaca "ideal" e, para sabermos a resposta, fizemos o caminho inverso, ou seja, deixamos que as vacas de ótima performance nos contassem como elas eram. Identificamos no banco de dados nacional da ABCZ quais eram as vacas, no país todo, que atendiam aos seguintes critérios:
A pesquisa no banco de dados envolveu 873.884 vacas da raça nelore, a raça mais numerosa e para a qual foi possível desenvolver o trabalho. Destas, 1.010 atenderam aos requisitos, das quais foi possível localizar, pesar , avaliar e medir 334 vacas em um trabalho conduzido no país todo pela competente equipe de campo da ABCZ.
Os resultados morfométricos médios encontrados levaram à definição do que o grupo de pesquisa denominou de a "vaca ética" em uma conceituação lúdica, porém, técnica.
É possível, com um pouco de esforço, visualizar nossa "vaca ética". Começando pela estrutura, um parâmetro muito ligado ao tamanho e que foi medido em uma escala de 1 (muito pequenas) a 6 (muito grandes); as vacas se concentram entre 4 e 5 (68%), ou seja, aos extremos tiveram frequência mínima (nenhuma ocorrência para nota 1 e apenas 13% para nota 6). Basicamente, o mesmo aconteceu para musculosidade, no qual vacas débeis não foram encontradas nem as muito musculosas, com frequência desprezíveis.
Para precocidade, usando a mesma escala (1 para tardias e 6 para muito precoces), a classificação para 82% das vacas variou entre 3 e 5. Nenhum biótipo tardio doi encontrado. Outro indicador interessante foi o ângulo de inclinação da garupa, em que 91% das vacas apresentaram garupa entre levemente inclinada a inclinada, reforçando o conceito de facilidade de parto dos zebuínos. Nenhum umbigo penduloso foi verificado, sendo que 74% ficaram entre reduzido e bom.
A altura média de anterior foi de 141 centímetros com 68% das vacas variando entre 135 e 146 centímetros. Na altura de posterior, a média foi de 147, concentrando se entre 141 e 153 centímetros. O comprimento do corpo seguiu padrão semelhante (151 em média), mas com extremos de 128 a 178 centímetros . A média para o perímetro torácico foi de 188, com variações mais significativas de 128 a 229 centímetros. E por fim, o peso médio dessas vacas, um indicador muito expressivo foi de 421 a 570 quilos.
Pois bem, como disse no início, a busca do biótipo ideal se revelou ilusória. A partir da análise desses dados morfométrico, percebemos que a vaca ética não é única nem padronizada: ela pertence a um conjunto com plasticidade fenotípica. Contudo, ficou evidente também que as nossas vacas funcionais e éticas fugiram dos extremos. Elas parecem residir naquele espaço onde reinam o bom senso e o equilíbrio entre a forma e a função.
*Luiz Josahkian, é zootecnista, especialista em produção de ruminantes e professor de Melhoramento Genético na Faculdade Associadas de Uberaba - FAZU. É Superintendente Técnico da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ).
Artigo publicado pela Revista Globo Rural - Ed. Jun. 2016.