Quarta edição do trabalho revela comportamento das vendas de touros em 2018 e chega com algumas surpresas
Enfim chegamos à 4ª edição do Top 100 – Zebuínos, levantamento que apura o desempenho dos 50 maiores vendedores de touros Bos indicus na última temporada, 2018. O trabalho é fruto do esforço da Revista AG e da BrasilcomZ. Números e depoimentos demonstram que os negócios andaram como caranguejos: ora de lado, ora para frente e, em alguns casos, até para trás. Contudo, a percepção para o novo ciclo de vendas que se iniciou é otimista. Alguns dados iniciais mostram tendência de recuperação do mercado.
Marcadamente, além dos principais fornecedores de touros provados manterem seus engajamentos nos programas mais renomados de melhoramento genético e antenas ligadas na evolução tecnológica de novas ferramentas de seleção, como a genômica, nesse período de vacas magras, a preocupação com a fidelidade dos clientes tem aumentado, demandando novas ações no estreitamento das relações, ampliação de benefícios e assistência técnica. “Atualmente, não basta oferecer bons produtos. É preciso oferecer maiores garantias”, reforça Willian Koury Filho, diretor da consultoria BrasilcomZ e coordenador do Top 100 – Zebuínos.
Muitas vezes, mais ações no pós-venda implicam em aumento de custos, uma dinâmica crescente na bovinocultura de corte, desde que a atividade passou a ser afetada pela crise institucional, política e econômica que o País enfrenta. Em 2016, ela pegou a pecuária no contrapé, depois de mostrar forte blindagem no início da maior recessão já vivida pelo gigante do Hemisfério Sul. Mas como a roda não pode parar de girar, os maiores produtores de touros do Brasil desovaram quase 20 mil cabeças das raças Nelore ( e mocho), Sindi, Tabapuã, Guzerá, Brahman e Gir, sendo que o Nelore respondeu por 80% do mercado.
Especificamente por raça, então, a Nelore respondeu por 16,4 mil exemplares, enquanto a variedade mocha, por 1,8 mil; contra 539 do Tabapuã, 359 do Brahman, 75 do Guzerá e outros 75 do Sindi. Fechando, 16 do Gir dirigido ao corte. A oferta total contabilizada em 2018, 19.937 animais, é 2% inferior a de 2017 (20.472). Por unidade da Federação, São Paulo, mais uma vez, respondeu pelo maior volume de comercialização, com 4.652 reprodutores, contra 4.406 de Mato Grosso – muito próximo – e 2.074 do Tocantins. Neste levantamento, o estado mato-grossense perdeu a liderança.
Além do Nelore , nota-se escala também entre outras raças, com destaque para sua variedade mocha, na qual Carlos Viacava lidera as vendas do levantamento, com 738 reprodutores. No Tabapuã, o bastão ficou com a Fazenda Água Milagrosa, com 212 cabeças, e, na sequência, Carlos Balbino e Aldo Valente aparecem com 169 animais Brahman.
Top cinco maiores
A Agro-Pecuária CFM, de São José do Rio Preto/SP, mais uma vez, se apresentou como a maior vendedora de reprodutores, no caso, de animais Nelore portadores de Certificado Especial de Identificação e Produção (CEIP). Por meio de seu tradicional leilão, remates virtuais e vendas diretas na fazenda, comercializou 1.353 cabeças, oferta estável em relação a 2017 (1.358). O gerente de pecuária da empresa, Tamires Miranda Neto, representa um dos produtores que valoriza o pós-venda como principal artifício para manter a liquidez do negócio.
“Trabalhamos cada vez mais e melhor na fidelização dos nossos clientes, pois eles respondem por 60% de nossos negócios, ano a ano. Portanto, entendemos que, melhorando essas relações, automaticamente, reforçamos a demanda por nossos produtos”, explica. Conjunturalmente, Miranda destacou que o mercado de touros se manteve tímido, embora segurando a liquidez.
“Todos precisam de reprodutores para continuar trabalhando. O apetite por investir é que, eventualmente, fica mais tímido, já que o consumo de carne no País não sai do lugar, o que reprime o valor da arroba do boi gordo. Paralelamente, porteira adentro, os custos aumentam e os cintos apertam”, esclarece. Os preços médios dos touros CFM ficaram entre R$ 7,5 mil e R$ 8 mil.
Quanto às expectativas para esta temporada já em andamento, Miranda se mostra mais otimista, porque o próprio preço da arroba reagiu nas principais praças pecuárias, em comparação ao ano passado. Também o mercado futuro sinaliza valorização. Paralelamente, a possibilidade de um novo ciclo de alta na bovinocultura de corte já incrementou os preços praticados nos bezerros e nas fêmeas de reposição.
A análise é muito próxima à de um importante agente desse mercado de animais provados, Lourenço Miguel Campo, leiloeiro rural e diretor da Central Leilões, pioneira no setor. Até o fechamento desta edição, a Central já tinha comercializado por volta de 4 mil touros nesta temporada.
O empresário desenha o mesmo cenário de Miranda. “Nestas primeiras promoções do ano, observamos elevação dos preços. A média que menos cresceu subiu 6%, e a que mais saltou o fez em 12%.” Para Campo, porém, 2019 está caminhando segundo 2018, ano em que a atividade já demonstrou sinais de recuperação, ainda que modesta. De qualquer forma, ele avalia que o aquecimento será muito mais generalizado nesta temporada.
Quem reforçou esse otimismo, mas foi mais duro com a realidade deste mercado, foi Ilson Corrêa, diretor da segunda colocada, a Agropecuária Grendene, de Pedro Grendene, com propriedades em Cáceres/MT e Andradina/SP. Para ele, a remuneração da pecuária seletiva ficou completamente “espremida e retirou qualquer capacidade de investimento para expansão e melhorias”. “Nosso planejamento prevê crescimento na oferta, o que requer aumento de custos. Mas o momento é desfavorável para esta realidade.”
Corrêa trabalha com a leitura de grandes mudanças para 2019. No ano passado, a empresa obteve remuneração média de R$ 9,4 mil por cabeça, o que representa o mesmo valor de 2017. A princípio, o executivo destaca que pode parecer estabilidade, mas é enganoso, uma vez que o valor não repassou a inflação do setor. “Os insumos continuaram encarecendo, e entendo que até acima da desvalorização da moeda”, explica. De qualquer forma, a Grendene, neste levantamento referente às vendas de 2018, aparece em segundo lugar como maior fornecedora de touros zebuínos do País, com 1.231 animais, oferta 10% superior à de 2017, quando ocupava a terceira posição.
Com sentido oposto, quem segue cheio de otimismo é André Curado, titular da Agropecuária Terra Grande, em Bernardo Sayão/TO. A fornecedora de reprodutores promete vender, neste ano, 1,4 mil animais, após perder o segundo posto neste levantamento (1.184), em relação a 2017, quando negociou 1.124 touros. Vale observar que a empresa aumentou sua oferta em 5%. Para Curado, que já realizou negócios neste ano, com 350 cabeças leiloadas em Xinguara/PA, a média de quase R$ 11 mil já reflete a valorização do preço do bezerro, que, ao lado do consumo de carne, determina os preços praticados na genética comprovadamente melhoradora.
O pecuarista é mais um que valoriza o pós-venda, chegando a dizer que é preciso ter mais “intimidade” com os clientes, participando mais da rotina do negócio deles, com o máximo de atenção, para que os produtos mais adequados possam ser indicados. “Cada vez mais é preciso dar respostas ao mercado que, efetivamente, se traduzam em resultados no caixa de quem investe na nossa genética”, reforça. Para Curado, a produção de carne bovina está forte. “As exportações estão em alta, e a ‘vaca louca’ está devidamente enterrada”, justifica.
Na quarta posição na amostragem do Top 100 – Zebuínos, uma surpresa: a EAO Empreendimentos Agropecuários e Obras, que não participou do último levantamento, mas, anteriormente, sempre se manteve entre os cinco primeiros colocados. A empresa, com sede na Bahia, desovou 953 touros no mercado. Embora a redação da Revista AG não tenha obtido êxito em colher o depoimento do diretor de pecuária da empresa, Maurício Filho, já havia relatado que a seleção de Nelore da empresa tornou-se madura e em expansão na sua oferta de produtos, depois de fortes investimentos entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000. Passando alheia à crise, a EAO trabalha com a premissa de que a bovinocultura de corte está em expansão, registrando forte crescimento ao longo das últimas décadas, com grande tecnificação e profissionalização.
Fechando na quinta posição dos top cinco maiores vendedores de touros do País, uma surpresa é a Nelore Katayama, cuja gestão está sob a liderança de Gilson Katayama. A empresa possui propriedades em Guararapes/SP, com 5,5 mil matrizes Nelore avaliadas por um programa próprio de melhoramento genético, o PKGA+. A cada ano, a grife vem incrementando sua fatia de mercado. Vale lembrar que a bovinocultura é um dos negócios do Grupo Katayama, um gigante de décadas da avicultura paulista.
Em 2018, a empresa comercializou 856 reprodutores, mas o executivo planeja, em pouco tempo, alcançar oferta de 1,4 mil cabeças. Para ele, “os criadores estão cada vez mais atentos à necessidade de melhorar a rentabilidade de suas fazendas. Nesse sentido, mesmo com o setor passando por preços da arroba e de reposição ainda retraídos, em 2018, os investimentos em genética de ponta, principalmente aquela oriunda de criatórios com trabalho sério e consolidado, resultaram em preços firmes e boa liquidez, de modo geral.
Porém, Katayama também lidou com o “contínuo aumento dos custos de produção, frente a essa relativa estabilidade de preços de venda de reprodutores, que vem corroendo a rentabilidade do negócio de genética. Diante dessa erosão de margens, é imperativa a luta incessante pela redução de custos, pelo aumento da produtividade e pela escala de produção. Não há mais espaço para gastos exagerados. Na Katayama, simplicidade produtiva, custos similares aos de gado para corte, alta lotação e produtividade de pastagens, além de escala, têm rentabilizado o nosso negócio satisfatoriamente”, contextualiza.
O pecuarista concluiu expondo suas expectativas para esta temporada – em andamento – alertando, também, para o fato de que “o ciclo pecuário parece ter assumido tendência de inversão, ou seja, alta dos preços da reposição, arroba e consequente retenção de matrizes. Esse conjunto de fatores deve impulsionar a comercialização de touros em 2019 e trazer novo alento ao setor nos próximos anos. Mas, mesmo com essa sinalização, não creio em preços inflacionados em curto prazo, mas acredito em estabilidade e boa liquidez”.
Confira a lista - TOP 100 Zebuínos - Os Maiores Vendedores de Touros do Brasil 2019, clicando aqui.
* Publicado na Revista AG (Julho, 2019)