A comercialização dos bovinos é tema de interesse de todos os pecuaristas com certeza. Criamos, recriamos e engordamos animais para realizar a venda. Simples assim. Em março de 2018, redigi o artigo: Venda de gado gordo: “Audiência” de um técnico de campo. O texto abordava, de forma muito simples e direta, as questões discutidas pelos vendedores no dia a dia: venda a peso vivo ou a rendimento, a prazo ou à vista, problemas nas classificações de carcaças, possíveis bonificações, tamanhos dos lotes, acompanhamento de abates etc. Na época, o conteúdo foi bastante acessado e serviu como arranque para algumas boas discussões nas redes sociais e em grupos que participo. O conteúdo segue bem atual. Dê um Google, que acharás com facilidade.
Pensando com a mesma lógica de venda do gado gordo, me proponho a trazer esta breve revisão sobre o tema venda de terneiros. E chamo terneiros - e não bezerros -, porque farei novamente o relato de um técnico de campo que acompanha os movimentos do mercado no Rio Grande do Sul. Não me sinto à vontade para ampliar minhas considerações para outras realidades regionais. Dessa forma, fica mais apropriado chamar o produto de terneiros, pois me refiro ao bovino vendido na desmama no RS, e, provavelmente, com muitas similaridades em Santa Catarina. Acima desta linha do mapa, seguramente, muda o cenário que tentarei abordar.
O assunto do momento no RS são as diversas feiras de terneiros que estão ocorrendo todos os dias nesta metade final de abril e prosseguirão por maio. As transmissões pela internet nos permitem acompanhar um maior número de eventos e, assim, vamos nos inteirando sobre o tipo de produto ofertado (raça, cruzamento, inteiros/castrados, pesos etc) e os valores obtidos. As conversas são mais ou menos conhecidas: “Tal feira fez R$ 14 de média”, “Noutra feira, os castrados valeram bem mais que os inteiros”, “Em tal cidade, só venderam bem os terneiros leves”, “Em outra, as fêmeas foram mais buscadas e os preços ficaram iguais aos dos machos, “Difícil produzir terneiro pesado e de qualidade para ter preço menor na hora da venda”, “Em tal praça, o terneiro pesado foi muito bem vendido”, “O mercado não quer saber de muito zebu”, “Olha, teve praça em que o cruza Zebu foi o mais buscado”, “Tal lugar vendeu a mais de R$ 17, mas os terneiros eram uns ratinhos, dizia o pessoal”, “Não tem como comprar terneiro com esse preço, a conta não fecha.” Essa última frase se ouve bastante neste ano, mas as outras são usuais também. Concordam?
Pois é, Velloso, e agora? Melhor vender em casa ou nas feiras de terneiros?
A resposta mais lógica é o famoso “depende”, mas ninguém gosta de resposta que começa com depende. Vamos, então, tentar revisar os itens que fazem as duas vendas bem diferentes.
É preciso compreender os itens que seguem para aí decidir se é melhor vender na fazenda ou nas feiras de terneiros:
Espero não ter confundido mais do que esclarecido, pois o objetivo de meu texto não foi defender ou criticar as feiras de terneiros como forma de comercialização de nossa produção, mas sim de revisar os fatores que diferenciam a venda particular (em casa) ou nas feiras. Para alguns, as feiras devem ser a melhor opção, para outros talvez não, e, para produtores maiores, até se pode praticar um modelo misto, onde parte da produção é vendida no cedo em casa (os mais pesados) e a parte final da produção liquidada em feiras. Vários modelos são possíveis. Até a venda programada vem ocorrendo, onde parte do valor dos terneiros é pago como entrada (antecipação) e o saldo, no desmame e pesagem dos animais. O comprador, assim, garante parte de sua necessidade de animais, e o vendedor faz antecipação de caixa, a definição de data para o desmame etc. O preço pode ser pré-definido, ou usado um percentual de sobrepreço sobre o boi (ex: 25% a 35%), ou mesmo o preço médio da feira local. Como um avanço mais recente, os leilões virtuais (com filmagem dos lotes na fazenda) são uma alternativa intermediária entre a venda na fazenda e nas feiras de terneiros tradicionais.
O positivo é que cada vez temos mais informações disponíveis para a tomada de decisão, seja para a venda do terneiro de forma particular, via corretor ou nas feiras de terneiros. Com o preço do boi em mãos, podemos projetar o preço do terneiro que iremos tentar vender. Com os resultados das feiras dos terneiros, podemos acompanhar se o mercado está firme, tendendo a cair ou a subir com o avanço dos eventos. Não gosto de respostas com muito “depende”, mas, neste caso, depende de nós avaliarmos e decidirmos que modalidade de comercialização melhor nos atende. E porta pra terneirada!
* Publicado na coluna Do Pasto ao Prato, Revista AG (Maio, 2021)
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