Por José Fernando Piva Lobato (UFRGS)
Os fóruns De Onde Virão os Terneiros?, organizados pelo Sistema Farsul, com colaboração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, deve-se ao fato de o Estado ter apenas 56 terneiros desmamados por cada cem vacas, conforme a Secretaria de Agricultura. São 46 vacas sem cumprir a sua missão, ou, mais realístico às possibilidades e estágio de reprodução e do meio, ao menos 24 vacas sem desmamar, ao almejar 80% de desmame, índice necessário para essa categoria contribuir para alcançarmos 28% de desfrute.
Que setor sobrevive tendo 24% de ineficiência? Esse pode não quebrar, mas não crescerá, deixando de produzir mais e melhor. Ao não fornecer mais novilhos às poucas indústrias da Metade Sul e inúmeros produtos a outros segmentos importantes da economia deixam de movimentar o comércio, não há desdobramento nos serviços e demais segmentos. No entanto, temos uma pecuária de extremos. Se tirarmos dessa taxa de desmame os produtores de ponta, com prenhez de novilhas aos 24-26 meses de idade, alguns poucos com prenhez aos 13-15 meses de idade, com índices de desmame superiores a 80%, a média seria ainda menor.
A maior dificuldade é melhorar índices reprodutivos. A recria e a engorda de novilhos ditos precoces têm crescido, com abates desde os 15-18 meses aos 24-30 meses, que vêm abastecendo a demanda crescente por carne certificada angus e braford. As maiores facilidades do engorde, o giro e o retorno mais rápido do capital com novilhos jovens tornam mais atrativa a terminação. Ao contrário: poucos têm paciência de criar com qualidade.
Isso significa recriar novilhas para prenhar aos dois anos, esperar pelos 9,5 meses de gestação, mais cinco a sete meses para o desmame. São quase 18 meses para desmamar um terneiro por vaca. Isso se manejá-la em pastagens naturais com 2,5 mil/3 mil quilos de matéria seca por hectare, desmamando no início de março para poupá-la e, na sequência dos anos, enquanto cria um terneiro, já ter condições de iniciar a gestação de outro. Mas também sendo adaptada ao caloroso subtrópico com manejo sanitário e atitudes administrativas previstas e executadas todo dia. O pecuarista precisa ser um maestro para com sua batuta reger inúmeras variáveis.
Incutir o manejo quase diário das forrageiras para terminar com a fome dos rodeios é objetivo maior dos Fóruns. Difundir conhecimentos gerados por instituições de ensino e pesquisa nos últimos anos e associá-los aos produtores modelos é fator fundamental para mudar a relação de 56 terneiros por cada cem vacas.
Há mercado para mais e melhores terneiros. Temos frigoríficos com subabate, mercado nacional com consumo de 87% da produção e exportação de 1,5 milhão de toneladas equivalente carcaça em 2013. Temos mercado para embarque de animais vivos com qualidade. Urge a necessidade de colocar novilhas em serviço com melhor padrão zootécnico, para serem melhores vacas.
Com 28 terneiras para cem vacas, não há nem pressão de seleção em novilhas.
Publicado em Zero Hora, Caderno Campo & Lavoura, 28/7/2014