Por Prof. José Fernando Piva Lobato - Fac. de Agronomia UFRGS
Ao encerrarmos mais um ano festejamos o incremento de 10% nas exportações de produtos cárneos bovinos, mas amargamos 14 milhões de desempregados e 35 milhões de subempregados. Ao acertarmos o país, o mais rápido possível, números expressivos de possíveis e ávidos consumidores.
Estimulante o número crescente de pecuaristas participantes dos programas de carnes de qualidade, fortalecendo como nunca as associações de criadores, com bonificações de até 10% em carcaças acima de 240 kg, com dentição jovem, acabamento 3 a 6 mm e rastreadas. No entanto, esta “cereja do bolo” não é correspondida com a mesma eficiência nos rodeios de cria.
Ao analisar na Sec. da Agricultura os números de bovinos do RS nas diferentes categorias, declarados pelos pecuaristas, repassados ao Ministério da Agricultura e aos organismos internacionais, vê-se a permanência constante de novilhas de dois e três anos, até então sem desenvolvimento para iniciar a reprodução, 1.182.970 e 1.276.506, respectivamente (em 17/12/18, às 10h18min). Estas, se somadas as novilhas de ano totalizam 3.700.000 a 3.800.000. Elas, mais a relação de 54-56 terneiros por 100 vacas existentes nos meses de junho, demonstram uma constante ineficiência dos rodeios de cria.
Uma crassa dicotomia! Qualidade de produto possível e valorizada versus ineficiência dos rodeios de cria. Enquanto temos condições de atender mercados gourmets nacionais e internacionais, os rodeios de cria padecem sem oferta forrageira adequada. Sem o mínimo uso de manejo forrageiro disseminado há anos.
No entanto, Prof. Richard Willham, Iowa State University, USA, enfatiza que a “reprodução” com características como idade ao primeiro parto, fertilidade, facilidade de parto, sobrevivência e terneiro desmamado/vaca tem o valor econômico relativo 100, o maior, enquanto as de “produção maternais” (produção de leite e tamanho adulto) e as de “mercado” (taxa de crescimento e eficiência alimentar) têm valor 20. O produto, a carne em si (quantidade e qualidade), somente o valor relativo 10. Ou seja, enquanto corretamente há estímulo a quem produz novilhos(as) de qualidade, há milhões de fêmeas em condições de subnutrição e, por conseguinte, com baixo desempenho e produtividade, prejudicando o sistema. Fruto do desconhecimento de corretas ofertas forrageiras. Basta olhar para os campos.
Esta persistente ineficiência nos rodeios de cria limita a reposição de melhores novilhas (vacas), a eficiência do sistema (kg ao desmame por 100 kg de vaca, ou hectare), reduzindo o peso dos cortes, alterando a constituição e qualidade dos mesmos.
Enquanto a “cereja do bolo” pode proporcionar mais 10% de preço, quanto proporcionaria maior taxa de desmame?
Fonte: Prof. José Fernando Piva Lobato (Fac. de Agronomia-UFRGS)
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