Por Fernando Furtado Velloso
A ASBIA faz o que tem de ser feito. A ASBIA faz o que tem de ser feito e faz bem feito. Na minha época de colégio, a gente tomava um tombo ou uma bolada e alguém dizia: bem feito! Trocadilhos e histórias sempre me agradaram e neste texto trago um pouco da boa trajetória da Associação Brasileira de Inseminação Artificial. Pelo menos a versão vista por meus olhos. A história é feita por quem conta.
Somos críticos das entidades em geral e, ao final, concluímos: ruim com elas, pior sem elas. No caso da ASBIA, a história é um pouco diferente. Os estudiosos do associativismo podem nos trazer explicações das causas deste fenômeno: uma entidade do agro que tem muita aprovação e admiração por tantos anos. Talvez seja porque ela reúne poucos associados com foco muito claro no crescimento setorial. Talvez seja porque contou com muito bons líderes, oriundos das melhores empresas do setor. Diferentemente de outras entidades do agro, a ASBIA não tem líderes a passeio ou por hobby na atividade. Talvez seja porque passou a contar, mais recentemente, com a figura de executivos qualificados para apoiar a sua diretoria e atender as demandas diárias de nosso setor. Num mundo cheio de “talvezes”, temos certeza que a ASBIA participou e ajudou a construir a história da inseminação artificial no Brasil.
Em novembro de 1974 a ASBIA foi fundada. Pouco mais de um mês após o meu nascimento, em outubro de 1974. Não sou terneiro do cedo, mas também não sou tão do tarde. Fiquei ainda no grupo dos candidatos a touro. Passados vários anos da fundação da entidade, integrei a diretoria da gestão atual em 2019. Logicamente, fiquei muito honrado com o convite, pois sempre fui consumidor dos bons conteúdos gerados pela entidade (relatórios, informes, publicações, manuais, etc). A vida vai nos levando para as áreas que gostamos. O gosto pelo campo me levou a faculdade de veterinária. A FAVET me levou para a Associação de Angus. A Angus me deu mais gosto pelo melhoramento genético e pelo touro. O touro me deu mais motivos para ir ao campo. Os leilões de touro carimbaram na minha mente que produção sem comercialização é pior que ir no baile e não dançar. O gosto por touros, melhoramento genético e inseminação nos fizeram abrir uma central de inseminação (a CRIO). De audiência da ASBIA nos tornamos associados. De empresa associada passamos também a participar da diretoria. Tive a chance de olhar a ASBIA por fora, pelo lado e agora bem por dentro. Lá no coração da melancia.
O que ocorreu na história e na evolução da inseminação artificial de bovinos no Brasil, pelo menos nos últimos quarenta e poucos anos, teve apoio e atuação da ASBIA: o sêmen congelado, sexado, heterospérmico, as tecnologias de embriões (TE/FIV), chegando até a clonagem e o que mais vier. Estas tecnologias foram promovidas, regulamentadas e oferecidas ao mercado. Seguramente que sem o trabalho da ASBIA este processo seria mais lento, especialmente na comunicação com os órgãos oficiais para que estas tecnologias e produtos chegassem logo ao campo.
A boa genética está espalhada pelo mundo e para que os genes dos melhores touros viessem para o Brasil houve muito trabalho para normatizar e viabilizar importações. Assim, como hoje, existe trabalho contínuo para ampliar os horizontes (e mercados) da exportação da genética brasileira. Somente a interface contínua com os governos e ministérios da agricultura é que permite que este fluxo de produto seja viável. Uma entidade forte, competente e representativa como a ASBIA faz esse papel.
Se a informação segue sendo insumo importante para decisões e negócios, os relatórios da ASBIA são um caso a parte, pois a entidade gera informação de qualidade faz vários anos. Comenta-se que o INDEX ASBIA é o relatório de mercado mais completo sobre inseminação artificial no mundo e exemplo ou benchmark para outros países. Pode soar bastante prepotente esta afirmação, mas são os outros países importantes na produção de genética bovina que nos dizem isto. É importante grifar que foi buscado pela entidade a excelência em metodologia, a transparência e confidencialidade necessárias. Para tanto existe um trabalho de cooperação técnica com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). Esta parceria permitiu a produção de relatórios semestrais, que tornaram-se trimestrais, e que logo serão bimestrais. A informação da municipalização do destino do sêmen e a validação de todas as informações dos associados são alguns exemplos do importante trabalho realizado pelo CEPEA para a ASBIA e para o setor de genética como um todo.
Neste fevereiro, a ASBIA lançou mais um INDEX ASBIA, com o fechamento do mercado de inseminação no em 2021. Em função da importância das informações foi realizado um evento de lançamento no estúdio da ABCZ em Uberaba. A transmissão ocorreu no Canal Rural (Lance Rural), pela ABCZ TV e Canal do Campo. Os dados do relatório são muito amplos e parte deles somente acessíveis aos associados da ASBIA, mas algumas importantes informações foram apontadas neste evento. Veja no quadro um resumo bem simplificado:
Os números são muito positivos e não refletem somente o que ocorreu em 2021, mas sim o comportamento do mercado nos últimos 20 anos, onde ocorreram taxas de crescimento contínuas na maioria dos indicadores. Observe que somente em 2021 o mercado cresceu em aproximadamente 5 milhões de doses. Este volume de doses é o suficiente para inseminar todas as matrizes do RS. Os dados da ASBIA mostram também que o RS já insemina 32% das suas vacas, mas isto já é outro tema, talvez outro artigo.
Parabéns ASBIA! Parabéns empresas de genética! Melhoramento genético aplicado na prática. E vamos por mais doses.
* Publicado na coluna Do Pasto ao Prato, Revista AG (Março, 2022)