Sêmen e embriões bovinos, já exportados para os países do Mercosul e o continente africano, começam a ganhar espaço em mercados da União Econômica Eurasiática.
O Brasil, sendo um dos maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas do mundo, encontra na União Econômica Eurasiática (UEEA) um mercado promissor para a venda de carne bovina, aves, soja, café, açúcar e frutas. Por outro lado, a UEEA, que inclui países como Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Armênia e Quirguistão, beneficia-se da importação de alimentos de alta qualidade e a preços competitivos, contribuindo para a segurança alimentar da região.
No primeiro quadrimestre de 2024, o Brasil exportou pouco mais de US$ 325 milhões em produtos do agronegócio para a UEEA, com destaque para soja em grãos, carne bovina, café verde e açúcar bruto. E recentemente, o governo brasileiro celebrou a abertura de 15 mercados dos cinco países integrantes da UEEA (Rússia, Belarus, Armênia, Cazaquistão e Quirguistão) para a exportação brasileira de sêmen e embriões bovinos (in vivo e in vitro).
No início de maio deste ano, também foram autorizadas as exportações de suínos vivos e em setembro de 2023, de bovinos vivos para os membros da União. As aberturas decorrem do recente adensamento de contatos bilaterais com a UEEA, por meio de atuação do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O médico veterinário Fernando Furtado Velloso, que presta suporte técnico e comercial da Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha para a CRIO Central Genética Bovina, de Cachoeira do Sul (RS), diz que o Brasil ainda tem uma participação pequena no mercado internacional de genética. E toda a abertura de novos mercados é recebida com festa, pois cada novo país amplia o potencial de volume exportado e vai credenciando o País a novos mercados. “Esse é um negócio que literalmente um cliente puxa o outro”, afirma.
A abertura de mercado deve beneficiar os pecuaristas do Rio Grande do Sul, segundo o especialista. “Especificamente para os gaúchos são novos mercados para as raças europeias, pois esta é a nossa especialidade e nicho”, ressalta. Velloso, no entanto, frisa que é preciso que o mercado internacional também nos veja como provedores de genética de taurinos. “A nossa maior imagem é relacionada à genética de zebuínos Gir, Girolando e Nelore”, explica.
Quando se fala em Angus, Hereford, Charolês, Devon e raças sintéticas derivadas destas, os primeiros provedores lembrados são a América do Norte, Austrália e Argentina, observa. Porém, aponta Velloso, o Rio Grande do Sul tem material genético selecionado nestas raças com características diferentes e que podem ser muito apreciadas para diferentes mercados. “O exemplo são os sistemas pastoris, tolerância ao calor, infestação por parasitas, resistência ao carrapato etc. A genética que desenvolvemos é um produto com tecnologia diferente de nossos concorrentes”, salienta.
O diretor comercial da CRIO destaca que, em relação ao mercado internacional, a genética brasileira está com muito bom espaço e reconhecimento nas raças zebuínas, especialmente nas leiteiras (Gir e Girolando), e com crescente espaço para o Nelore. Nas raças taurinas, porém, ainda temos pouca participação nas exportações nacionais. A CRIO já exportou algumas vezes diretamente para o Paraguai, especialmente genética de Angus e Brangus. “Indiretamente, o nosso produto já foi exportado para outros países por meio das centrais que coletam e congelam sêmen de seus touros em nossa empresa”, sublinha.
Velloso observa que, considerando as tecnologias que utilizamos e os nossos programas de melhoramento, se pode dizer que alcançamos os níveis mais altos possíveis na atualidade e estamos lado a lado com os principais países produtores de genética. “Essa situação não era a mesma há 15 ou 20 anos, quando os nossos reprodutores não dispunham do mesmo volume de dados e tecnologia embarcada que os reprodutores importados”, declara. “Esse cenário mudou muito e para melhor. Hoje dispomos e usamos o mesmo pacote tecnológico para seleção animal que os países mais avançados”, acrescenta.
Sócio-diretor da Cort Genética Brasil, o médico veterinário Antônio Carlos Olabarriaga Cabistani, conhecido como Tonho, conta que a empresa produz genética para todo o Brasil e já exportou sêmen e embriões de bovinos de corte para os países do Mercosul, principalmente para a Argentina, Uruguai e Paraguai. E também para o continente africano, com embarques de material genético para o Quênia e Angola. “Começamos a exportar há cerca de dez anos e já exportamos para oito países. Têm épocas de boas vendas e outras nem tanto, um pouco pela variação cambial e, também, pelos requisitos zoosanitários das autoridades sanitárias dos países importadores”, afirma, reforçando que a exportação de material genético é acompanhada pelo Mapa, seguindo o protocolo sanitário do país importador.
Cabistani explica que as raças mais demandadas pelos clientes do exterior são as sintéticas Braford e Brangus, desenvolvidas na Região Sul do Brasil. “Também exportamos sêmen e embriões bovinos das raças Angus e Hereford, mas pouca coisa”, reconhece. O profissional destaca que, de país importador de bovinos, o Brasil passou a exportador de genética bovina superior. “A nossa genética é reconhecida pela qualidade e muito procurada”, completa.
Alta nas exportações
A produção e a exportação de sêmen bovino no Brasil demonstraram crescimento significativo no primeiro trimestre de 2024. Dados do Index Asbia, elaborado pelo Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP)), para a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), revelam um aumento de 49% nas exportações de sêmen bovino e um crescimento de 10% na coleta de doses em comparação ao mesmo período do ano passado. Em vendas externas, o Brasil saltou de 133.817 doses embarcadas no 1º trimestre do ano passado para 199.631 doses, enquanto a coleta de sêmen saiu de 4.251.208 doses para 4.718.235 doses.
Em 2023, o Brasil exportou 873 mil doses, o que é um volume bastante expressivo, mas que representa aproximadamente 4% de um mercado total de mais de 25 milhões de doses de sêmen no País (somando corte, leite, prestação de serviços e exportação). Apesar da exportação ainda ter pequena representatividade no mercado de genética, é um segmento que vem crescendo anualmente e propiciando novos negócios para as empresas de genética e criadores.
Fonte: Revista FEBRAC (N3 - Agosto 2024)