Foto: Divulgação: NESPRO
Durante dois dias, 600 pessoas de 120 localidades diferentes acompanharam atentas as apresentações da XX Jornada Nespro e Congresso Internacional de Criadores. “Rompemos a zona de conforto e atraímos nosso público para um shopping. A programação ocorreu em cima de temas atuais e que farão a diferença para o futuro das propriedades rurais”, comemorou o coordenador do NESPro, Júlio Barcellos.
Já para a presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, Antonia Scalzilli, o que aconteceu durante o evento foi emocionante. “Pudemos ver aqui que o estado é um gigante adormecido, temos muito já a desenvolver e identificar nossas fortalezas”, concluiu.
Destaques das palestras do segundo dia
Os desafios que os gaúchos vêm enfrentando com mudanças climáticas nos últimos anos são rotina na Austrália. A afirmação é do engenheiro agrônomo Luis Felipe Prada e Silva, professor e pesquisador na Universidade de Queensland, Austrália. Segundo ele, existem algumas formas de contornar os problemas climáticos na pecuária. Uma delas é a suplementação estratégica das vacas no pré-parto. Outra medida adotada no país é apostar na seleção de animais com melhor resposta na reciclagem de nitrogênio. "É algo que estamos pesquisando na Austrália, mas na prática o produtor já faz essa seleção de alguma forma, buscando animais mais produtivos", explica Prada e Silva.
E quando o assunto é produtividade em reprodução por monta natural, monitorar a eficiência dos touros é um diferencial. Foi o que apresentou o médico veterinário Vinícius de Anhaia Camargo, da Universidade de Calgary, no Canadá. Segundo ele, até a identificação precoce de problemas como claudicação (manqueira) pode fazer a diferença nos resultados. “Touros mais sociáveis tendem a emprenhar mais vacas e produzir mais terneiros”, descreveu como o monitoramento é revelador para identificar o problema físico dos animais.
Outro palestrante que mencionou o impacto da genética, desta vez na produção de carne de qualidade, foi o professor e pesquisador da Universidade de São Paulo, Fernando Baldi. Neste sentido, explicou a relevância de buscar o reprodutor com as características ideais para esse objetivo.
Boi pesado por drone?
A digitalização do controle dos processos cotidianos dos animais na fazenda é cada vez mais necessária. Procedimentos como a pesagem facilitada e cerca elétrica com comunicação em wi-fi trazem, conforme Luís Alberto Müller, gerente da empresa Datamars, bem-estar animal e, sobretudo, tornam mais prático o trabalho das pessoas envolvidas.
“A inovação traz qualificação na mão de obra da fazenda. As tecnologias têm que melhorar e facilitar o nosso trabalho”, lembrou. Müller ainda relatou que estão avançadas as pesquisas para que a pesagem do gado seja feita por drone, mas essa tecnologia ainda precisa evoluir na precisão. “Está na fase embrionária. Isso vai chegar para nós”, previu.
Fábio Montossi, pesquisador do Inia, a principal instituição de pesquisa agropecuária do Uruguai, descreveu como a pecuária do país é praticada em relação à sustentabilidade ambiental. Lembrou que o país é responsável por apenas 0,04% das emissões globais de gases de efeito estufa, e que a carne uruguaia possui uma série de certificações internacionais em áreas como bem-estar animal, livre de antibióticos e assim por diante. “Não estamos vendendo carne, mas um conceito e confiança. Produzimos e exportamos confiança”, disse.
O uso de aditivos alimentares para a redução da emissão de metano recebeu críticas do gerente global de Tecnologia de Bovinocultura de Corte da Cargill/Nutron, Pedro Veiga Paulino. Segundo ele, há efetivamente redução da emissão, mas nenhum ganho zootécnico. E, assim, o produtor não deve ser o único a arcar com os custos do produto, mas também a indústria ou consumidor final.
“A grande maioria dos trabalhos não demonstra melhorias nos índices produtivos, ou seja, ganho de peso, conversão alimentar, eficiência biológica”, conta. “O produtor que quiser usar hoje esses aditivos para reduzir a emissão de metano, vai ter um custo adicional e não vai ter benefício econômico uma vez que esses aditivos ainda não entregam benefícios técnicos”.
O evento se encerrou com uma mesa-redonda de produtores do Brasil, Uruguai e Argentina. Cada um trouxe a experiência de seus países, que têm muita semelhança com a pecuária realizada no Rio Grande do Sul.
Fonte: NESPro