Top 100 - Taurinos traz novidades nas cinco primeiras colocações, mas consagra GAP Genética e Grupo Pitangueira na liderança do ranking, mesmo em tempo de vacas magras
A palavra mais utilizada para definir o ano de 2022 para os vendedores de genética avaliada foi “desafiador”. Contudo, há aqueles mais incisivos que o conceituaram como “trágico” e uns poucos que pareceram ter passado às margens, classificando-o como “muito positivo”. O certo é que o TOP 100 - Taurinos de 2023 aponta um encolhimento entre 15% e 20% do volume de negócios. O levantamento nos taurinos é concebido por uma parceria entre a Revista AG PEC e a Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha, aos moldes do “Seed Stock” norte-americano. Como a adesão é voluntária, um ou outro criatório representativo pode não ter participado.
TOP 1 – GAP Genética
Pela 8a vez consecutiva, desde o lançamento da pesquisa, e com quase o dobro do 2o colocado, GAP Genética manteve-se como número “1”, trabalhando com as raças Angus, Brangus, Hereford e Braford. No total, foram 653 cabeças. Os produtos são consequência de um trabalho centenário da família que foi ganhando corpo e tecnologia ao longo do tempo.
João Paulo Schneider, o “Kaju”, diretor comercial, avalia que a temporada de 2022 foi a mais “desafiadora”, por vários motivos conjunturais. O primeiro deles diz respeito à inversão de ciclos, colocando a atividade na época de preços baixos.
Para o executivo, como o retorno de custeio do touro se dá mais a médio e longo prazo, muitos produtores preferem reduzi-lo. E o comportamento reflete no futuro e no entendimento de que “quem tem produto para comercializar precisa entender a capacidade do mercado e aceitar a diminuição de margens”, reforça.
Embora as exportações tenham crescido para 30% de toda a carne que se produz no país, nos últimos dois anos, o poder aquisitivo do mercado interno, que fica com os outros 70%, está muito baixo, trazendo a rentabilidade da bovinocultura de corte para o “fundo do poço”. Para superar o momento, como a GAP tem um plantel de matrizes em reprodução muito grande (mais de 6 mil), boa parte do excedente de reprodutores é absorvida internamente.
Kaju explica que a GAP fatura mais com a produção de carne do que com a venda de genética. “O lucro está no rendimento de cada animal no gancho e não, simplesmente, no valor pago pela arroba. É a eficiência dos animais que nos garante bom caixa”, justifica.
Quando a demanda é mais enxuta, a GAP reduz a oferta em seus leilões e adota a estratégia de valorizar as vendas diretas na fazenda. Outro aspecto que Kaju levanta é, uma vez que as vendas de fêmeas POs selecionadas crescem, mais criatórios se habilitam para colocar mais touros no mercado. “Um caminho natural”, reforça.
TOP 2 – Grupo Pitangueira
A marca Pitangueira revela um trabalho que já caminha para 40 anos de existência e cumpre com louvor o legado deixado por Pedro Monteiro Lopes, falecido em 2020. Estão à frente do grupo, atualmente, Clarissa e Eduardo Peixoto. Para eles, essa conquista só aumenta o compromisso de trabalhar cada vez melhor e garantir a qualidade de sempre dos seus produtos.
O Pitangueira comercializou 328 touros da raça Braford em 2022. O número é 25% inferior aos de 2021, quando negociaram 437 produtos, mas assegurou o 1o posto de negócios dentro da raça sintética. Na avaliação de Eduardo, “o 1o semestre do ano passado ainda foi muito positivo para a venda de reprodutores e terneiros. Já no 2o, as incertezas trazidas pelas eleições e a queda dos preços da arroba do boi gordo - e mesmo dos bezerros - mexeram muito com o mercado de touros”.
Clarissa ressalta, no entanto, que “a retração dos negócios permitiu trazer a lotação das pastagens para uma realidade mais confortável, frente à forte estiagem. De qualquer forma, a diretora reforça que esses momentos são previsíveis e é momento de investir ainda mais na oferta de animais geneticamente diferenciados”.
Segundo Clarissa, o grupo prepara-se para comercializar 500 touros, em 2023. Além do melhoramento trazido pelo programa da DeltaG, os reprodutores seguirão com avaliação de Consumo Alimentar Residual (CAR). “Nos certificarmos de que tudo que os animais consomem será convertido em riqueza da melhor forma possível”, explica.
Tal a prova do CAR que a propriedade mostra o quanto cada animal ingere dieta para produzir 1 kg de carne. A avaliação é realizada com a chancela da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nesta temporada, além do tradicional leilão de outono, a marca estará nos remates Heritage e no Pitangueira e Convidados. Clarissa ainda cogita a possibilidade de mais uma licitação ainda neste ano. De qualquer forma, as vendas diretas acontecem ao longo de todo o ano.
TOP 3 – Senepol da Grama
A Senepol da Grama, de Pirajuí (SP), realizou as primeiras importações da raça ainda no ano de 2000. Trata-se da maior oferta de reprodutores do gado de origem caribenha. No levantamento anterior, apareceu na 5a posição. No de 2023, na 3a, com 320 reprodutores. Júnior Fernandes, diretor do empreendimento, é outro que classifica 2022 como um ano “extremamente desafiador”.
A pecuária da marca é dirigida 100% à produção e comercialização de genética avaliada. A propriedade dispõe do maior centro privado de avaliação de eficiência alimentar da América Latina. Isso significa dizer que todos os animais comercializados passaram por essa mensuração, além das realizadas pelo Programa de Melhoramento Genético do Senepol (PMGS), levado pela consagrada Embrapa/Geneplus. “Nós entendemos que os clientes não estão se apresentando simplesmente para encontrar touros e, sim, soluções para o negócio de cada um”, ressalta o selecionador.
Segundo Fernandes, esse trabalho começa nos acasalamentos que, por sua vez, “utilizam inteligência artificial para minimizar erros e otimizar a leitura das Diferenças Esperadas de Progênie (DEPs) e análises fenotípicas”. A preocupação em atender bem os clientes vai até a entrega dos animais vendidos nas propriedades investidoras. “É como uma rastreabilidade. Temos o controle de todo o processo até a entrega dos produtos em suas novas casas. Em 2022, rodamos 35 mil quilômetros entregando touros pelo país”, reforça.
O criador acredita que a hora é de “manter a produção. Tudo o que se decide hoje afeta o negócio daqui a dois ou três anos, quando o cenário favorável se desenhar”, justifica. Para a Senepol da Grama estar pronta para 2024, Fernandes aperfeiçoa a gestão e o bom andamento de todos os setores do negócio, inclusive no que diz respeito à capacidade técnica da equipe de trabalho e à sua necessária valorização. “A cada amanhecer, queremos ser melhores do que no dia anterior”, enfatiza.
TOP 4 – Cia Azul
Essa preocupação em atender da melhor forma possível seus clientes é também o que guia o comportamento da Cia Azul, criatório de Uruguaiana (RS). Pelo levantamento “TOP 100 - Taurinos”, a marca comercializou 272 touros das raças Angus, Brangus e Braford.
“Para nós, é motivo de muito orgulho figurar, mais uma vez, entre os cinco principais fornecedores de touros, uma vez que nos coloca entre aqueles que procuram bem servir ao mercado nacional. Trata-se de uma genética adaptada não só às nossas condições de ambiente como às de mercado e seus solavancos de preços. Satisfação ainda por perceber a aceitação de nossos produtos pelo alto índice de retorno dos compradores”, conforme salienta Reinaldo Titoff Salvador, o diretor.
Para o pecuarista, o novo ciclo de baixa acabou e já até se percebe um movimento de alta de preços na pecuária de corte. “A curva ascendente já está no horizonte”, reforça. Ele soma a essa expectativa o fato das exportações se manterem consistentes.
No cenário interno, ele também não acredita em prolongamento das dificuldades encontradas no ano que jogou o preço dos terneiros lá embaixo. “Para o final deste ano ou para início de 2024, o mercado já sentirá uma recuperação”, vislumbra. A cabanha tem sua produção voltada ao mercado de carne de qualidade e este deverá ser o primeiro setor a sentir os bons ventos.
A Cia Azul está há mais de 50 anos apostando no melhoramento genético. Às avaliações por meio de DEPs somam-se, agora, as de ultrassonografia de carcaça - responsáveis por melhorar o rendimento frigorífico e a qualidade de carne. E as ferramentas não se encerram aí.
A última aposta do criatório é a genômica. “Ela está fazendo as amarrações daquela genética de 50 anos com o nosso trabalho atual. Isso nos dá tranquilidade, pois temos a certeza de que os bons negócios com os animais que serão valorizados em 2024 e 2025 já serão gerados neste ano de 2023, é exatamente o que estamos fazendo”, explica o selecionador.
TOP 5 – Tradição Azul
A Tradição Azul é o novo criatório integrante do top 5 do levantamento dos maiores vendedores de touros de raças taurinas do Brasil em 2023. O criatório, como o próprio nome sinaliza, continua a tradição de seleção de mais de um século da Cabanha Azul. Deste plantel, anualmente, selecionam-se touros registrados para uso no próprio rebanho e para venda. A seleção é baseada nos índices zootécnicos estimados em “DEPs”, obtidos pelo Promebo, e na seleção visual, realizada pelos técnicos das associações, baseada no padrão de cada raça: Angus, Brangus, Hereford, Braford e Ultrablack.
Na temporada passada, a marca comercializou 266 reprodutores das cinco raças, com destaque para as sintéticas. Vasco Antônio da Costa Gama Filho, diretor do empreendimento, avalia que o ano de 2022 foi um ponto fora da curva em relação aos demais, em função da grande procura por seus animais. Os negócios aconteceram em dois remates anuais, cerca de 2/3 da oferta, e o restante diretamente na fazenda. “Faltaram touros”, afirma.
Em entrevista exclusiva, Gama não escondeu sua satisfação e orgulho pela conquista no “TOP 100 - Taurinos”, mas reforçou que ela também aumenta a responsabilidade. “Produzir animais cada vez melhores é um desafio ano a ano, já que o mínimo erro pode comprometer”, explica. Salienta que sempre busca manter o alto padrão de qualidade dos touros. “Afinal, vendemos aquilo que gostaríamos de comprar”, explica.
A genética da Tradição Azul trabalha em todo o país. Ela apresenta animais adaptados, rústicos, com pelame curto, “carrapateados”, com fortes características frigoríficas e com aptidão para trabalharem com os extremos de temperaturas. Gama tem certeza de que o alto índice de recompra dos seus reprodutores é o que faz figurar a marca entre as principais na comercialização. “São clientes que compram, trabalham com ela, colhem bons resultados e voltam aos negócios”, conclui.
Fonte: Revista AG (Junho, 2023)