*por Fernando Furtado Velloso
Nesta semana está ocorrendo uma das exposições mais badaladas do Brasil, a FEICORTE, exposição totalmente indoor na cidade de São Paulo. Não há como questionar que fazer um grande evento de pecuária no coração financeiro do país é uma boa idéia. Aqui se reúnem os maiores empresários, os maiores frigoríficos e as mais diversas empresas do setor, etc. Mas, todo vez que participo deste evento me inquieta uma antiga preocupação e reflexão: expor animais é um bom método de selecioná-los?
São inegáveis as dificuldades de se conciliar métodos de seleção objetiva com a participação de animais em exposições. De um lado queremos identificar os melhores indivíduos em condições de igualdade de criação e na outra ponta oferecemos tratamento preferencial e super diferenciado aos eleitos para participarem das exposições. Se priorizarmos a avaliação dos animais nos seus grupos para identificarmos os superiores na fase pré e pós desmama não teremos animais competitivos em exposições. Se pré-selecionamos animais eleitos para as exposições podamos a possibilidades de avaliá-los nas suas condições reais de criação. E assim forma-se o impasse: selecionar ou expor?
O bom desempenho nas exposições confere aos criadores importante promoção, divulgação das suas fazendas e fortalecimento de suas marcas. O resíduo deste êxito atinge em muito até a valorização dos demais reprodutores vendidos nas fazendas ou em leilões. Desta forma, pode-se concluir que participar em exposições pode ser bem mais efetivo do que investimentos em marketing e publicidade. Pode ter sido assim até pouco tempo atrás, mas diversas informações devem nos fazer refletir: a bateria de touros das centrais de inseminação tem cada vez maior participação de touros selecionados por programas de avaliação genética (desempenho) e menos por campeões. Entre os touros importados por estas empresas a quase totalidade é de animais com dados como argumentos técnicos de venda. Os grandes programas de cruzamento do Brasil contribuíram com a venda de 3 milhões de doses de sêmen de Angus em 2012 e estes priorizam touros com dados técnicos e não premiados.
As exposições têm suas virtudes, mas temos o dever de repensá-las. O RS está bem representando na FEICORTE especialmente pelas associações de Angus e Hereford/Braford. Ambas estão dedicadas a valorizar os diferenciais de suas raças, em divulgar a contribuição desta genética nos programas de cruzamento e em demonstrar a qualidade da carne de seus produtos. Com mais arrojo algumas iniciativas estão usando bem os espaços e rede de negócios das exposições com ações bem distintas das usuais. Destaco o exemplo da Fazenda Jacarezinho e Delta Gen que valorizam e promovem seus programas de avaliação genética e seleção objetiva . Neste ano a Jacarezinho fez uma linha do tempo dos 20 anos do touro Nelore Kulau, desde o processo correto na sua identificação como touro para precocidade, o método de comprovar esta característica em sua produção e a influência de sua genética em diversos touros atuais desta seleção. Para ilustrar, alguns filhos de Kulal estão sendo apresentados como concretização deste trabalho.
Provavelmente as exposições não sejam mais o melhor lugar para selecionarmos os melhores animais, mas provavelmente seguem sendo um grande espaço para valorizarmos nosso trabalho como selecionadores e produtores de carne de qualidade.
Publicado no Jornal Folha do Sul, Caderno Campo (20 jun 2013)