Entre os produtores é comum a dúvida se vale a pena pagar mais por doses de sêmen de alguns touros e quanto a mais em reais é justificável ou não. É difícil e até incorreto classificar um touro em “barato”, “médio” ou “caro” em função do preço da dose de sêmen, pois o que determinará o seu real valor é o impacto (positivo ou negativo) em produtividade nos rebanhos usados.
Na atualidade, é totalmente possível estimar a diferença de produção de dois touros com o uso dos dados da avaliação genética. As DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie) servem exatamente para este fim, ou seja, eleger o melhor touro para as necessidades do rebanho a ser usado e para comparar diretamente um touro A com um touro B. Desta forma, não é pura teoria estimar ou simular as diferenças de impacto produtivo de diferentes touros em um mesmo rebanho, mas sim é aplicação prática de conhecimento técnico (comprovado cientificamente) para tomada de decisão na escolha de genética e no valor possível de investimento. A maioria dos pecuaristas gosta muito de animais e costuma valorizar fotos e vídeos dos reprodutores, porém não há ferramenta mais precisa e segura do que o uso correto das informações de avaliação genética. Não há nada errado em buscar animais que nos agradem o “visual”, mas sem dúvidas esta questão tem de ser secundária aos dados disponíveis de avaliação de desempenho do próprio animal e de sua progênie.
No simples exemplo aqui apresentado fica evidente que touros superiores geneticamente retornam o valor investido em doses de sêmen de maior preço. Na simulação foram considerados dois touros da raça Angus, sendo um “Caro” (A) e outro “Barato” (B). O touro denominado de “caro” tem dados superiores para Peso ao Desmame e Peso ao Ano. O touro “barato” tem dados equivalentes à média da raça Angus.
Para Inseminação Artificial foi considerada a Taxa de Prenhez de 75% e em IATF de 50%, ou seja, necessidade de 1,25 doses por prenhez na IA convencional e 2 doses por prenhez na IATF. Atualmente, vários resultados de campo superam estes resultados, mas assim montamos um cenário bem conservador. Considerando um programa de inseminação para 50, 100 ou 300 matrizes foi calculado o desembolso com o sêmen em duas faixas de preço bem diferentes (R$ 15,00 ou R$ 30,00 por dose). Usando a diferença das DEPs dos dois touros, podemos estimar a diferença de peso dos animais no Desmame ou Ano e assim estimar o potencial de produção de kgs e faturamento adicional para os dois animais.
Progama de IATF (uso de 2 doses por prenhez) | |||||||
Touro | R$ (dose) | % Prenhez | DEP Peso Desmame | DEP Peso Ano | Vacas | Desembolso em sêmen | Produtos |
A ("Touro Caro") | 30,00 | 50% | 75 | 115 | 50 | R$ 1.500,00 | 25 |
* Superior a média da raça para PD e PA | 30,00 | 50% | 75 | 115 | 100 | R$ 3.000,00 | 50 |
30,00 | 50% | 75 | 115 | 300 | R$ 9.000,00 | 150 | |
B ("Touro Barato") | 15,00 | 50% | 49 | 88 | 50 | R$ 750,00 | 25 |
* Media da raça para PD e PA | 15,00 | 50% | 49 | 88 | 100 | R$ 1.500,00 | 50 |
15,00 | 50% | 49 | 88 | 300 | R$ 4.500,00 | 150 |
Diferenças em produção e potencial faturamento (R$) do touro "Caro" x "Barato" |
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Diferença em Peso Desmame (libras) | Filhos | Total libras | Conversão em Kgs (0,45) | Cotação Desmame | Faturamento extra | Desembolso adicional em sêmen | Resultado | ||
26 | 25 | 650 | 295 | R$ 5,50 | R$ 1.621,62 | R$ 750,00 | R$ 871,62 | ||
NO DESMAME | 26 | 50 | 1.300 | 590 | R$ 5,50 | R$ 3.243,24 | R$ 1.500,00 | R$ 1.743,24 | |
26 | 100 | 2.600 | 1.179 | R$ 5,50 | R$ 6.486,48 | R$ 4.500,00 | R$ 1.986,48 | ||
Diferença em Peso ao Ano (libras) | Filhos | Total libras | Conversão em Kgs (0,45) | Cotação Novilho Gordo | Faturamento extra | Desembolso adicional em sêmen | Resultado | ||
27 | 25 | 675 | 306 | R$ 5,00 | R$ 1.530,90 | R$ 750,00 | R$ 780,90 | ||
NO NOVILHO | 27 | 50 | 1.350 | 612 | R$ 5,00 | R$ 3.061,80 | R$ 1.500,00 | R$ 1.561,80 | |
27 | 100 | 2.700 | 1.225 | R$ 5,00 | R$ 6.123,60 | R$ 4.500,00 | R$ 1.623,60 |
Em ambos os sistemas de inseminação (convencional ou IATF) o touro mais “caro” mostrou-se mais rentável tanto em ganho de peso adicional ao desmame ou ano. Mesmo para programas de IATF, onde são necessárias mais doses por prenhez, o touro mais “caro” (e mais produtivo) deixou melhor resultado financeiro, cobrindo totalmente a diferença do valor da dose de sêmen e deixando faturamento extra para a fazenda. No exemplo de um rebanho de 50 matrizes o touro mais “caro” deixou um resultado adicional na desmama
equivalente a R$ 1,7 mil reais, já descontando o seu maior preço de dose.
Os cálculos estão na primeira parte da simulação em libras, pois as provas dos touros americanos são
apresentadas nesta unidade. No final da simulação o peso adicional dos animais é convertido para quilogramas para calcular o faturamento extra. Fica bastante fácil observar que o touro “caro” na verdade é aquele que não traz ganhos em desempenho animal ou até nos arrisca colher reduções de produtividade. Com a crescente intensificação dos sistemas de produção, que podemos exemplificar com técnicas como o Creep Feeding, Suplementação, Confinamento, Irrigação de Pastagens e tantas outras, torna-se ainda mais importante que os animais tenham potencial genético para responder a estas melhorias em alimentação.
O investimento em genética superior (sêmen ou touros) traz resultados produtivos para todos os perfis de produtores, sejam criadores, terminadores ou pecuaristas de ciclo completo. A simulação usada aqui somente aborda questões relacionadas ao impacto do ganho de peso dos animais, porém muitas outras características tem grande impacto a médio e longo prazos quando avaliamos também questões relacionadas a fertilidade, produção de leite, tamanho adulto, etc. No caso de produtores de genética (vendedores de
touros), o maior investimento em sêmen de touros superiores para programas de inseminação não é somente uma necessidade técnica, mas sim deve ser visto como um compromisso e uma obrigação para com os seus clientes.
Fonte: Publicado no Catálogo Select Sires 2015/2016, comemorativo aos 50 anos da empresa.