Por José Bento Sterman Ferraz, professor titular de Genética e Melhoramento Animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo
A pecuária de corte tem enfrentado vários desafios, como os constantes aumentos de produtividade e rentabilidade da agricultura, quem vem progredindo ano a ano em produtividade. Isso obriga o empresário da pecuária de corte a buscar o aumento da produtividade e da rentabilidade. Uma das formas de conseguir isso é pelo melhoramento animal.
A seleção de reprodutores consiste na escolha dos animais que serão os pais das próximas gerações e contribuam de forma diferenciada para o patrimônio genético dela, alterando a frequência gênica. Mas como escolher reprodutores e matrizes de maneira adequada a determinados objetivos, com o menor risco de erro possível?
A pergunta chave: para que servem os reprodutores e as matrizes?
Eles são verdadeiras “máquinas” e valem pelos produtos que conseguem produzir, os bezerros. Seu valor é medido pelos seus produtos, e eles produzem esses descendentes somente pela união de seus gametas (espermatozoides e óvulos). Infelizmente, não é possível conhecer com precisão o valor genético dos animais, pois o desempenho deles (fenótipo) é resultado do patrimônio genético (genótipo) e dos efeitos do meio ambiente, existindo ainda uma interação entre eles.
O processo de estimação dos valores genéticos aditivos dos animais é conhecido como avaliação genética, que torna possível estimar esses valores, isolando-os dos efeitos não genéticos. Essas estimativas mostram o quanto a média dos filhos de um animal seria desviada em relação à média de todos os filhos dos reprodutores utilizados na mesma avaliação, o que é conhecido pelos criadores como Diferenças Esperadas na Progênie (DEPs), as verdadeiras especificações técnicas genéticas dos animais. Seu uso correto no momento de decidir qual material genético será adquirido aumenta de maneira acentuada o progresso genético dos rebanhos.
Além da predição do valor genético, é importante avaliar a acurácia associada a essa estimativa, medida de quanto a estimativa é relacionada com o “valor real” do parâmetro. Ela
nos informa o quanto o valor estimado é “próximo” do valor real e nos dá a “confiabilidade” daquela estimativa. Esse conceito de acurácia é muito importante, pois indica o “risco”
da alteração da estimativa do valor genético com a entrada de novas medidas de sua progênie ou de outros parentes na avaliação genética. Uma informação essencial para o criador é que o ganho genético por ano, que na verdade é o que gera recursos para o pecuarista, é calculado tendo a acurácia no numerador, mas o intervalo de gerações no denominador.
O balanço entre o uso de animais de acurácia mais alta, mas com a menor idade possível, maximiza esse ganho genético. Uma das formas de aumentar a acurácia de animais jovens é a seleção genômica, uma metodologia que integra as tecnologias genômicas e as ferramentas da genética quantitativa e do melhoramento, propiciando um grande salto qualitativo nos sistemas de avaliação genética. Essa nova abordagem vem rapidamente mudando os paradigmas do melhoramento genético de animais domésticos e plantas, causando uma verdadeira revolução na nossa capacidade de prever fenótipos e, com isso, aumentar a acurácia de seleção em idade precoce. Um dos principais aspectos da seleção genômica é pré-selecionar animais antes mesmo de seu desempenho ser medido, minimizando custos e economizando tempo.
O uso de marcadores moleculares serve para ajudar o criador a identificar animais, ainda jovens, que têm potencial para transmitir alelos favoráveis aos rebanhos, assim serão alteradas as frequências desses alelos em detrimento de outros menos favoráveis ou até mesmo desfavoráveis que existam.
O Quadro 1 apresenta a relação entre acurácia e risco de alguém comprar material genético e, no futuro, ele não corresponder à informação do momento da compra.
Juntamente com as DEPs, os marcadores genéticos serão de grande valia para:
Marcadores moleculares, em conjunto, explicam uma parcela, normalmente de 10 a 30% da variância genética e essa, por sua vez, explica uma parcela, normalmente de 20 a 30% da variância fenotípica. Assim, é muito comum uma avaliação molecular, denominada valor genético molecular (VGM) ser diferente e até mesmo de sinal contrário e magnitude muito diferente do valor genético aditivo estimado pelas avaliações genéticas.
Fonte: Revista Pecuária em Alta (Out/Nov 2015)