Foto: Divulgação/Assessoria
O estado do Rio Grande do Sul possui inúmeras universidades com cursos na área de ciências agrárias, instituições de pesquisas consagradas e ainda um vasto grupo de profissionais que atuam no assessoramento técnico aos pecuaristas, constituindo um sólido repositório tecnológico. Associado a isso, temos recursos produtivos locais diferenciados: raças adaptadas (o Estado é considerado “o grande repositório genético de raças britânicas e suas cruzas para o Brasil"), o bioma Pampa, o conhecimento empírico do fazer “do gaúcho”, a integração lavoura-pecuária e uma base institucional centenária. Portanto, com esses recursos, adicionados do conhecimento e das tecnologias disponibilizadas pelo repositório, é crível afirmar que deveríamos estar na vanguarda da produtividade e da eficiência na pecuária de corte frente aos outros estados da federação e até mesmo em relação aos vizinhos do Mercosul.
O resultado disso seria suficiente para abastecer de carne bovina os consumidores gaúchos, os nichos de São Paulo e Rio de Janeiro e ainda exportarmos à Europa. Na realidade, somos importadores de carne de outros estados – imaginem de Rondônia –, do Uruguai e, pasmem, atualmente até da Argentina. Isso de certa forma sugere um antagonismo entre a disponibilidade de tecnologias, os recursos e os seus resultados. Então cabe a pergunta: Se temos tudo isso, por que não alcançamos novos patamares de produção e produtividade?
Antes de responder esta indagação, vale destacar que nossos indicadores de produtividade cresceram significativamente nos últimos 30 anos, mas num ritmo muito aquém do esperado. Em qualquer atividade produtiva, a inovação continua sendo o grande diferencial de competitividade sustentável. Porém, gerar novas tecnologias não significa usar novas tecnologias e aqui talvez esteja a chave do processo. Uma novidade tecnológica, quando seus resultados não são facilmente perceptíveis pelos pecuaristas, requer 25 anos para ser utilizada de forma generalizada. Por outro lado, quando seus benefícios econômicos são claros, o tempo recua para cinco anos. Esse é um dos principais problemas da baixa introdução das inovações na pecuária e isso está associado ao sistema de difusão das mesmas, da linguagem inapropriada dirigida ao produtor rural e ainda, em alguns casos, de benefícios econômicos duvidosos.
A expressão de que o maior puxador de tecnologia para o campo é o resultado econômico positivo de seu uso, aqui é aplicável. Portanto, precisamos aproveitar o conhecimento disponível, suas derivações tecnológicas, os recursos humanos altamente capacitados, e tudo o mais do entorno, para dar o salto definitivo rumo à competitividade. Com isto, teremos uma economia mais estável, um produtor com renda e a cadeia produtiva da carne bovina alinhada. Na XIII Jornada NESPro, de 4 a 6 de junho, em Porto Alegre, (www.nespro.ufrgs.br), que vai tratar do “Uso de tecnologias na pecuária de corte - Do passado ao presente”, abordaremos temas dessa natureza.
* Autor: Prof. Julio Barcellos (NESPro - Dep. Zootecnia - UFRGS)
* Publicado no Correio do Povo (03/06/18)