Foto: Divulgação/Assessoria
Manter-se rentável ano após ano nos negócios agropecuários não é tarefa fácil. Talvez não haja um caso maior disso do que com os produtores de leite, lutando com baixos preços do produto por anos.
No entanto, os produtores de leite estão percebendo que a cerca de 5 milhões de novilhas em idade reprodutiva e 9 milhões de vacas podem gerar lucro além do leite. Uma das menos exploradas oportunidades de lucro é a produção de bezerros cruzados e também o excesso de novilhas que podem ser lucrativamente alimentados e comercializados pelas fazendas. Com isso em mente, houve um aumento exponencial no uso de sêmen de corte em rebanhos leiteiros para produzir gado mais qualificado para as engorde.
Testes genômicos acessíveis que dão aos produtores de leite uma visão do potencial genético de suas novilhas ajudaram a fazer isso acontecer. Os produtores de leite podem agora determinar se uma novilha que entra no rebanho tem a genética para produzir fêmeas leiteiras de reposição ou se seria melhor inseminá-la com touro de corte para produzir gado de engorde com valor agregado.
O sêmen sexado é outra peça do quebra-cabeça que permite que as novilhas e vacas leiteiras top produzam somente bezerras, diminuindo o número de fêmeas necessárias para suprir uma operação leiteira com reposição. Estatísticas da Associação Nacional de Criadores de Animais (NAAB) mostram como se tornou popular o uso de touros de corte nas matrizes inferiores do rebanho, com um incremento de 59% na venda de sêmen de corte só no ano passado. Para ter certeza, a maior parte deste aumento de sêmen ocorreu em vacas leiteiras e não vacas de corte.
No entanto, o uso de sêmen de corte em vacas leiteiras sempre envolveu pouca atenção em termos de seleção dos touros corretos, portanto, os produtores de leite precisam de uma estratégia melhor para tornar esse sistema sustentável.
Até agora, os touros mais populares só precisavam se encaixar em dois critérios - preto e barato - que frequentemente resultavam em resultados abaixo da média. Por exemplo, novilhos leiteiros recebem um desconto significativo por causa de seus altos custos de manutenção no confinamento e baixos rendimentos de carcaça e de desossa nos frigoríficos. Aqueles que comercializam sêmen estão descobrindo que a primeira escolha de muitos produtores de leite para o uso em suas vacas de baixa produção é o sêmen Angus barato. Embora isso tenha ajudado na fase de crescimentos dos animais, a conformação dos bezerros não foi alterada o suficiente para evitar os descontos ao novilho leiteiro nas plantas das indústrias.
Um melhor plano é necessário
A empresa Wulf Cattle Company, criadora de Limousin, tem sido uma das líderes no fornecimento de sêmen Limousin e do híbrido LimFlex para uso em gado leiteiro. Eles iniciaram em rebanhos de gado Jersey e agora iniciam também em rebanhos com Holandês.
O Jersey têm uma afinidade especial com marmorização, de modo que a genética Limousin melhora todos os outros aspectos, incluindo a eficiência alimentar, o peso e rendimento da carcaça. Os animais cruzados com Limousin preto e outras raças de carne preta também podem qualificar animais para programas e marcas de carne Angus - que geralmente têm cor de pele, conformação e qualidade de carcaça como seus requisitos, em vez de requisitos reais da raça. Os cruzados de Limousin também mostraram redução do número de animais que recebem descontos por conformação a menos de 1%. A Wulf Cattle Company nomeou seu programa "Breeding to Feeding", que resultou em um aumento nas vendas de sêmen de Limousin.
O programa Breeding to Feeding levou os bezerros Jersey de produtos quase sem valor e os transformou em uma mercadoria lucrativa. Os animais puros Jerseys e Guernseys também apresentam gordura amarela devido à presença de beta-caroteno em níveis mais elevados do que outras raças. Isso ocorre porque as outras raças convertem mais prontamente o beta-caroteno em Vitamina A. O gado com gordura amarela também está alinhado com descontos adicionais, mas quando cruzado com um animal de corte, esse problema é eliminado.
Talvez um dos programas mais inovadores e cientificamente sólidos a serem anunciados seja o sistema HOLSim da Holstein USA e da American Simmental Association. Ao contrário de Jerseys, que são uma raça pequena que vai pendurar uma carcaça muito leve, os animais da raça holandesa são mais propensos a receber descontos por carcaças muito grandes.
O líder do programa na American Simmental Association, Chip Kemp, disse que uma das chaves para a HOLSim não é apenas melhorar a conformação, mantendo o grau de qualidade, mas também produzir carcaças que se ajustem ao tamanho do sistema. Kemp já trabalhou numa das principais indústrias frigoríficas e reiterou que um dos principais problemas com as carcaças de novilhos leiteiros é que elas são longas demais para a altura do trilho da planta.
Embora a raça holandesa tenha tido o potencial genético de produzir carne bovina com marmoreio, o melhoramento genético para marmoreio nas raças de corte, especialmente no Angus. Isso significa que os touros de corte muitas vezes atendem ou excedem o potencial de marmorização da raça Holandesa. Assim, para produzir novilhos cruzados desejáveis, os animais precisam de uma combinação única de características nos touros de corte: incluindo a facilidade de parto (sem lucro em um bezerro morto), homozigotos pretos, crescimento moderado para evitar carcaças muito longas, grande área de olho-de-lombo e a marmorização.
Quando a American Simmental Association e a Holstein USA formaram um índice usando os dados da International Genetic Solution (IGS) para classificar as predições genéticas dos touros calculados através da IGS, descobriram que os touros mais apropriados eram os híbridos Angus, dos quais 91% foram SimAngus (Simental, Angus híbrido).
Com a sintonia fina identificaram quais touros eram os melhores touros para o programa, dos cerca de 30.000 touros SimAngus possíveis, apenas 243 qualificaram. O objetivo agora é incentivar os selecionadores a produzir os touros dessa lista de elite e coletar dados sobre da maior progênie possível. Isso permitirá que eles validem e ajustem ainda mais o programa.
O CEO da Holstein USA, John Meyer, também vê outro ponto positivo nesses cruzamentos leite/corte: os produtores de leite tem parição o ano todo. Isso elimina os picos e vales sazonais observados com a produção de carne bovina, onde a grande maioria das vacas pare na primavera.
As vacas leiteiras cruzadas com touros de corte altamente selecionados é um sistema promissor e com potencial de aumentar significativamente a quantidade de carne bovina de alta qualidade disponível para os consumidores.
Para que isso funcione, os produtores de leite precisam deixar no passado o sêmen mais barato dos touros negros. Programas como o Breeding to Feeding e o HOLSim diferenciam aquelas criações estruturadas e planejadas para produzir novilhos lucrativos.
(Dr. Bob Hough foi vice-presidente executivo da Red Angus Association of America e é escritor freelancer.)
Fonte: Western Livestock Journal (24/05/19), traduzido e adaptado pela Assessoria Agropecuária.