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Terneiro: em 2022, meu nome é 3 Dólares

Informação, Mercado | 15 de Junho de 2022
Por Fernando Furtado Velloso

Em junho de 2019 escrevi um texto aqui neste espaço, com título: O nome do terneiro gaúcho é R$ 6,50.

Como ando, muito americanizado e aderindo a alguns estrangeirismos, desta vez, dolarizei o terneiro gaúcho. Agora, ele se chama 3 Dólares. Críticos criticarão. Dirão que o dólar, no final de abril, estava mais alto que os atuais R$ 4,75, que o terneiro gaúcho valeu até R$ 15,00, mas que também já está valendo pouco mais de R$ 12,00, e assim por diante. Seguramente, acharão formas de desqualificar o meu número. Prossigam. A função do crítico é criticar. A minha, aqui, é escrever, preferencialmente no prazo da editora. Desafio para todo procrastinador que acredita que uma ideia muito iluminada chegará antes do deadline. Cai no estrangeirismo que tanto critico.

Pois bem, lembro do tio Amaury Velloso lá em Livramento. Quando eu comecei a me interessar mais pelo mercado do gado, ainda estudante de veterinária, trocava ideias com ele. Na verdade, mais ouvia do que falava. Eu sabia quase nada e ele tinha bagagem carregada de tantos anos na atividade de produtor e também de corretor, ou “agente comercial” como falam hoje. Não vou mentir a data (anos 90), mas ele me comentou algo assim: “Meu filho, o boi bateu em 80 centavos de dólar. Nunca tinha acontecido”. Gravei esse número. Se não me engano, o Tio Amaury comprou muito gado gordo para o frigorífico da Perdigão no RS. Não tive tempo de confirmar essa informação com os primos, mas era uma dessas indústrias grandes que abatiam bovinos, não abatem mais e já devem estar dentro da BRFoods. Se não era Perdigão, era Sadia, mas era deste pessoal do presunto. Aprecio números e histórias de família.

Mais recentemente, ouvi em muitas conversas em remates ou até nos atuais grupos de whatsapp o seguinte: Chê, tu viste que o terneiro no Uruguai já está em 2 dólares? R: Que loucura, que maravilha, imagina a gente vendendo terneiro a esse preço aqui no RS? Daí sim. Aí eu carregava todos os meus pro navio. Que que eu quero com frigorífico!

Passado algum tempo, o nosso terneiro passou dos tais 2 dólares e estamos aqui, findando mais uma temporada de feiras de terneiros no outono gaúcho. Já faz alguns anos que a nossa empresa (Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha) tabula os resultados disponíveis das feiras, pois é uma informação que nos interessa e que os acessos em nosso site nos dizem que muito interessa ao produtor gaúcho. Mas, Velloso, quem nos dias de hoje não sabe os resultados das feiras e o preço dos terneiros? R: Não sei, mas que o pessoal acessa muito este conteúdo em nosso site nós temos certeza. Talvez para alguns se consolarem que não venderam tão mal como o vizinho comentou, talvez para outros se tranquilizarem que acertaram em vender no cedo para ajudarem as vacas e folgarem o campo, talvez para outros seguirem firmes no ofício de criticar. Acredito que toda informação de mercado, e especialmente a mais local, gera sempre interesse a todo produtor. O motivo correto não sabemos, mas seguimos firmes neste propósito, pois vemos valor na informação e temos apoiadores que nos motivam sempre a prosseguir.

Os dados parciais, dos resultados de abril até a metade de maio (popular 15/05), inclusive já publicados em nosso site e redes sociais nos informam o seguinte sobre o terneiro gaúcho vendido nas 47 feiras tabuladas:

1. Machos – foram vendidos no período mais de 17 mil terneiros, sendo a maioria machos castrados (aprox. 13 mil animais, com peso médio de 176 kgs por R$ 13,51) e a menor parte de machos inteiros (aprox. 4 mil animais, com peso médio de 194 kgs por R$ 13,40). Apesar da diferença de preço não parecer muito grande, ficou claro no levantamento os maiores valores para castrados versus inteiros.

2. Fêmeas – foram vendidas cerca de 9,5 mil terneiras, com peso médio de 167 kgs pelo preço médio de R$ 13,42. Em algumas feiras as fêmeas igualaram os preços de machos ou até os superaram, sugerindo a boa demanda por essa categoria, seja para ampliação dos rebanhos de cria ou para recria e engorda de novilhas.

3. Ágio do terneiro: a diferença do preço do terneiro em relação ao boi gordo ficou em 20%, ou seja, são necessários 1,2 kg de boi para a compra de 1 kg de terneiro. Este percentual ficou dentro de um patamar muito usual no cálculo dos pecuaristas. Em 2021, tivemos sobrepreços bem superiores, ultrapassando os 30% e até alcançando 40% em alguns momentos, mas foi considerado um ano atípico de  altíssima demanda de terneiros pelo mercado. As publicações do NESPro/UFRGS informam aumento na produção em 2021 no estado em mais de 200 mil terneiros, o que explica em parte esta acomodação do ágio desta categoria.

Se ficou curioso, busque na internet e localize os arquivos completos destas publicações no site da Assessoria Agropecuária (e só completar com o “.com.br”). Lá estão as parciais das feiras de terneiros bem detalhadas com data, município, quantidades, leiloeiras, etc. Em breve teremos o fechamento de toda a temporada de outono que já está se findando até meados de junho.

MAS, O PREÇO NA FEIRA SERVE PRA VENDA EM CASA?

SIM. Serve como referência, pois é uma informação pública que temos acesso diariamente nas diferentes regiões do estado e com bom volume de animais. No mínimo pode nos ajudar a negociar um pouco melhor com aquele comprador muito “seguro”.

NÃO. Porque as condições comerciais no leilão são bem diferentes da venda particular. Nas feiras de terneiros devemos ajustar os valores em função de outras questões. São elas:

a) peso dos animais - os terneiros estão com menor peso nas feiras em função da viagem, tempo de jejum, mangueirada, etc) e esta situação de “destare” leva, na teoria, a maiores preços por kg. Na venda direta o terneiro é apartado da vaca e pesado, praticamente sem quebra de peso. Na feira o terneiro é pesado nos parques sempre com alguma perda de peso. Se o terneiro pesa 10% menos na feira, posso pagar 10% mais no kilo. Meio conta de padeiro, mas tá valendo.

b) condição de pagamento - é usual a venda nas feiras com prazo de 60 dias para pagamento. Em negócios ou lotes específicos o prazo se vai até 90 ou 120 dias (famoso caso a caso). Na venda direta o mais usual é a venda à vista e já, não é tão incomum, algum negócio com adiantamento no valor de 100 kgs de terneiro ou algo parecido, para garantir a compra ou para estabelecer algum parâmetro de preço entre as partes. Sem muita matemática financeira é fácil perceber que de adiantado para 60 dias há um largo caminho;

c) financiamentos e linhas de crédito – nas feiras oficiais é usual termos maior fartura de recursos bancários e esta situação lubrifica os negócios e até envenena um pouco o motor de alguns carros (e de seus motoristas).

A ideia não é dar lugar de melhor negócio para feiras ou particular, mas de lembrar que são negócios que têm algumas variáveis diferentes. Logo, comparar diretamente os valores pagos sem nenhum fator de correção é simplificar demais. Um terneiro vendido em casa à vista pelo mesmo preço das feiras pode ser chamado de bom negócio, mas lembrem que falamos em medias e nas feiras muitos bons lotes (e bons vendedores) ficam bem acima destes valores. É a velha regra que segue atual: uma coisa é uma coisa.

INFORMAÇÕES DE RESULTADOS DE FEIRAS

Com tantos ganhos dos avanços digitais, das transmissões das feiras de terneiros e das informações prontamente disponíveis nas redes sociais tivemos um ganho que pode parecer pequeno, mas que permitiu (por exemplo) fazermos com razoável facilidade este levantamento com mais de 40 feiras especializadas e leilões de gado geral. E, a disponibilidade de informação transforma o cenário. Quando publicamos a primeira parcial de resultados das feiras de terneiros elogiamos as leiloeiras de Lavras do Sul (Clínica, Abascal e Parceria), pois publicavam os resultados com muito detalhamento, não somente com médias, mas também com informações de mínimos e máximos para preços e pesos. A temporada não terminou e os amigos de Caçapava (EDS Remates) aderiram também a essa forma de divulgar resultados de suas feiras. Já estão praticando o novo formato. Empresas e pessoas inteligentes observam o que ocorre no seu entorno e fazem seus ajustes. Elas agem mais e criticam menos. Tempo bem empregado.

Em tempo 1.0, falo terneiro e não bezerro sem qualquer bairrismo ou resistência ao termo usado nacionalmente, mas porque me refiro ao terneiro gaúcho. Somente a ele. Não existe bezerro no RS. Não existe terneiro fora daqui. Vamos seguir firmes falando terneiros e falando TU.

Em tempo 1.1, em junho de 2019 o terneiro gaúcho chamava-se Hum Dólar Setenta (1,70 USD). Pah, me fez lembrar quando a gente preenchia cheques e iniciava o Hum mil cruzeiros com agá. Riscava o que sobrava da linha. Cruzava com duas faixas no canto superior esquerdo. Esses cheques não sacavam, somente para depósito. Medidas de segurança da era pré-PIX. As ideias tão iluminadas não me chegaram para o texto, mas o prazo já acabou. Publique-se.

* Publicado na coluna Do Pasto ao Prato, Revista AG (Junho, 2022)

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